Vida: cuide, ame, preserve
Prezadas leitoras
e caros leitores, já ouviram falar sobre biofilia?
Trata-se de um termo criado pelo
psicanalista e sociólogo alemão Erich Fromm nos anos 70 e significa “o amor
apaixonado pela vida e por tudo o que está vivo”. Anos mais tarde,
o biólogo norte-americano Edward Wilson (1984) voltou a usar o conceito em seus
estudos, afirmando que os seres humanos têm uma tendência inata de associação
com a natureza, ou seja, que há uma forte ligação física e emocional das
pessoas com outros seres vivos.
Evidências de um comportamento humano
biofílico no nosso cotidiano são, por exemplo, a apreciação e curiosidade que
as pessoas mantêm pelo mundo natural e um desejo de proximidade cultivado
através de contatos sensoriais como o olhar contemplativo de uma paisagem, a
percepção do sabor e aroma dos temperos e ervas perfumando a casa, a escuta da
gota d'água pingando em dias de chuva, o toque e afago que vêm da companhia com
certos animais. E essa conexão sempre foi tão profunda culturalmente que
até a nossa linguagem diária incorporou expressões idiomáticas associando
sentimentos e comportamentos humanos ao universo da natureza. Afinal,
quem nunca ficou "com a pulga atrás da orelha", fez "boca de
siri", viu "a vaca ir pro brejo" ou acabou "no mato sem
cachorro"?
No entanto, o processo de urbanização e
a degradação da paisagem natural - poluição da água, solo, ar e o desmonte de
ecossistemas - têm promovido uma dissociação generalizada e o rompimento de
vínculos entre as pessoas e a natureza. É o que Aílton Krenak discute
em Ideias para adiar o fim do mundo, obra que reúne a
adaptação de duas paletras e uma entrevista em Portugal de um líder do povo
Krenak que atua há 30 anos como ambientalista e na defesa dos direitos
indígenas e das comunidades ribeirinhas da região do Vale do Rio Doce e do
Amazonas.
Aílton fala a partir da realidade de
quem convive diariamente com uma natureza que, apesar de ameaçada por
interesses econômicos, ainda é próspera e supre as necessidades de subsistência
e manutenção da sua comunidade, por isso o profundo respeito pelo organismo
vivo que é a Terra. O educador socioambiental enfatiza o direito à vida
de todos os seres - incluindo florestas, rios, montanhas... - sem
levá-los à exaustão para abastecer um tipo de existência humana que já está
condicionada a seguir o padrão extração - produção de mercadoria -
consumo - descarte. "Qual é o mundo que vocês estão agora
empacotando para deixar às gerações futuras? [...] já perguntou para as
gerações futuras se o mundo que você está deixando é o que elas querem? A
maioria de nós não vai estar aqui quando a encomenda chegar", questiona
Aílton. Para ele, estamos ficando alienados desse órgão do qual somos
parte, "[...] e passamos a pensar que ele é uma coisa e nós, outra: a
Terra e a humanidade", quando na verdade temos uma casa comum e uma
diversidade de vidas que precisam do cuidado de todos nós.
E por falar em casa e gerações
futuras, que tal incluir as crianças na conversa sobre como é fascinante e
diverso o nosso planeta? Em Minha casa azul acontece uma
"enorme viagem através dos mistérios do Universo, passando por nosso
pequeno planeta azul, pelos tesouros dos continentes, dos países, das cidades e
da casa azul de uma criança da Terra. Uma criança que enxerga o mundo
sonhando." Durante esse percurso entre realidade e imaginação, ela é
transportada do macro ao microcosmo da existência, reconhecendo sua
cidade, rua, família e amigos até chegar à porta vermelha onde guarda os
sentimentos do seu coração. E assim, a criança vai compreender que
existem inúmeras formas de vida e que ela também faz parte desse Universo
observado e vivenciado. O texto é acompanhado de ilustrações e colagens
belíssimas, levando o leitor a uma aventura planetária sobre o nosso querido
lar, a Terra.
Leituras sugeridas para jovens e adultos
KRENAK, Ailton. Ideias para
adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.
ROGERS, Kara. Biophilia
hypothesis. Encyclopedia Britannica, 25 jun. 2019. Disponível
em: Biophilia hypothesis.
SANTOS, Lázaro Araújo. Biofilia: a importância do contato com a biodiversidade para a saúde e bem-estar dos seres humanos. EcoDebate, n.3.652, 28 abr. 2021. Disponível em: Ecodebate.
Para todas as pessoas, mas especialmente as crianças
SÉRRES, Alain;
CANNARD, Edmée. Minha casa azul. Trad. Marcos
Bagno. São Paulo: Edições SM, 2009.
TATIT, Paulo; PERES, Sandra. Ora bolas. In: Canções de brincar. São Paulo: Palavra Cantada, 1996. 1 CD. Faixa 14. Disponível em: Palavra Cantada / Youtube.
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